Aquieta…
- Mirelli Turossi
- 18 de mai. de 2017
- 3 min de leitura

A fé é um convite ao descanso.
Se a fé é um convite ao descanso, por que é tão difícil se render a ela?
Penso que entre a arrogância do querer fazer do meu jeito, pela minha lógica e a covardia do meu medo do que Deus fará, resta ver o quão distante dEle eu me vi.
Ao chorar minha angústia, me dei conta de que não confio em Deus. Se eu confiasse não teria dúvidas em me agarrar em primeira instância à fé, mas não faço, não aceito o convite porque peço mal, peço mal porque não O reconheço.
Sobre Deus, há um tipo de reconhecimento de nossa parte. Quando falamos em Teologia, por exemplo, não tornamos Deus nosso objeto de estudo, nós vislumbramos coisas sobre Ele, sobre sua Palavra e essas coisas são nossos objetos de estudo, não Ele. Deus se conhece por experiências, mas é necessário um reconhecimento diário de quem Ele é para nós.
Conhecer a Deus é uma busca constante, do tipo que, cada dia que você não busca, quando se dá conta, está a quilômetros de distância dEle. O perdemos em alguma coisa corriqueira, em algum ego, alguma certeza, alguma paixão, alguma dor, alguma raiva… Deixamos de reconhecê-lo e neste momento a fé nos parecerá estranha, incerta, boba e incapaz. Nesses muitos quilômetros, perdemos a face gloriosa que nos ofusca e nossa arrogância ganha tanta força que sequer olhamos para trás. E quando olhamos, já teremos caído em algum buraco no caminho e nos esfolado o suficiente para questionar nossa inteligência e capacidade.
Vi-me nessa distância toda, esfolada nos joelhos que não dobrei para orar, mas caíram no áspero chão da minha falta de fé e se feriram na brita de incapacidade. E prostrada lamentava coisas das quais já experimentei provisão tantas vezes. E o monstro do palpável se fez presente mais uma vez: esqueci-me de focar na soberania, nessa que não se toca, mas derrama gotas gigantes de graça que nos tocam todos os dias, escorre por nosso semblante de comiseração e nos damos conta de que ela sacia, quando poderia nos esmagar. Por só ver gotas, a subjugamos e esquecemos que gota inunda pó. Sendo eu pó, de gota em gota, sou de vez em quando moldada novamente, soprada nas narinas para reviver sob a soberania desse Deus que podendo nos quebrar, nos molda para melhor vivermos a plenitude oferecida.
Fé é o chamado à plenitude, abundância de vida, confiar em quem cremos, nesse que nos deixou palavras de afeto ao pé da cruz, pedindo ao Pai que cuidasse de nós. Nós o mataríamos, mas Ele além de morrer por nós, se preocupa por ficarmos no mundo por mais um tempo.
Toda vez que desconheço o Deus em quem escolhi confiar, desconheço também minha escolha e ela vai à mesma proporção de distância que permito ficar do Cristo, que se eu apenas tocar as vestes, me curará de mim mesma.
Gostamos de ficar angustiados. Eu mesma sinto um tipo de falsa virtude quando fico abatida, colocando diante de Deus as insignificâncias que deixei tomar forma de monstro. Virtude é respirar fundo e repetir o salmista: “Por que estás abatida, ó minha alma?”
Então porque estou abatida? Até parece que não sei em quem creio. Creio nAquele que dá nome as estrelas, que conta os fios de cabelo da minha cabeça, que mede a água do mar nas palmas das mãos.
Logo o resto é resto e me aquieto, grito para minha alma alvoroçada: AQUIETA MENINA! Pois quietude é dádiva, misericórdia num mundo em caos. Aquieta, pois Deus é Deus e a vida é a vida, mas quem dá a última cartada é sempre Deus.
Aquieta menina danada da alma, aquieta. Olha para o céu, olha seu peludo bicho de estimação e aquieta. Repara bem na história, na vivência dessa fé que acompanha os anos e aquieta. Dá ouvido ao amigo, ao amor que hoje te acompanha, lembra as vezes que pensei que ele não viria e aquieta.
Bate de frente, lembra quem fez tudo até aqui e aquieta. Quebrante-se diante da distância permitida, do joelho ralado por querer ir só, mundo afora e aquieta. Enxuga as lágrimas e recebe o perdão de quem sabe dar melhor que qualquer um de nós, que entrega sua glória e feito gente se deixa tocar: toca, sente o coração queimar e aquieta.
A quietude da nossa alma nos dirá, se temos de fato reconhecido em quem cremos, ou se é preciso conhecer novamente o sangue derramado, o reino que se expande, as palavras que libertam. Aquieta e volta se preciso for, correndo ao encontro do Cristo, e se te faltar forças, não tema, Ele nos prometeu que renovaria nossas forças, nos daria asas e que correndo por Ele, não haverá fadiga capaz de nos separar do Amor que nos convida a descansar.
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